Tem gente que não se contenta em ser feio. Tem que provocar a vergonha alheia. Tem que ser superlativo do que já foi dito sobre a falta de noção do feio. Nem Umberto Eco — feio confesso — esperava por essa.
Mas não era o cabelo, quiçá as pontas vermelho-gastas que delineavam o penteado moicano, também já abatido pelo tempo e o crescimento dos cabelos ao redor. Decerto não era o cabelo. Nem regata de laicra, de balé, com alças bem fininhas que mostravam mais que o dorso nu aqueles ombros largos e a projeção de pelos que saltava do decote longuíssimo. Certamente não era a regata.
Os olhos fundo esperavam o pão na fila do lanche. Era hora do almoço. Olhos tipo Silvestre Stalone, que afundam na medida em que o nariz emerge da face e desampara as bochechas, pontudo, lá na frente. Esses, sim, talvez contribuíssem para a feição anêmica do rapaz, que com a regata cavadíssima preta combinava um shorts malhado de preto e amarelo.
É que se destacava mais pela reprovação das velhinhas — como o olhar das velhinhas significam a coisa, né? — que por ser feio em si. Recorro ao livro do Eco, “A história da feiúra”, para definir feiúra em si como excremento, carcaça. O que difere da feiúra formal, que é apenas um desequilíbrio entre as partes e o todo.
Não tem tese alguma. Pra ser feio não precisa nada. Mas, em sendo, tem que ter noção.